quinta-feira, 9 de junho de 2011

Escolas de idiomas têm métodos específicos para alunos com deficiência


Cada indivíduo carrega uma bagagem única. Esse pen samento é compartilhado por Eloisa Le Maitre Lima, pedagoga mestre em neurolinguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora da escola de idiomas Dice English Course, do Rio de Janeiro. Há 28 anos no mercado, a instituição de ensino se baseia na metodologia construtivista piagetiana, desenvolvida com a meta de ensinar a língua inglesa a alunos com deficiência visual. “Isso nos propicia um trabalho mais personalizado. Lecionar para crianças significa que o profissional deve aprender e gostar de trabalhar com ‘diferente’. Ele precisa sentir e, principalmente, no caso de crianças com deficiência, o tato, o corpo, o olfato e a audição são de extrema importância. E o método com o qual trabalhamos privilegia a audição, capacidade importantíssima para o aprendizado da língua por qualquer pessoa”, defende a especialista.



Durante o aprendizado, a criança, em especial, tem a vantagem nata de desenvolver a percepção auditiva com mais eficiência. Além disso, quando há algum aprendizado em defasagem, outros evoluem. Portanto, o ensino de um idioma para ela não pode ser atribuído somente aos olhos. De 0 a 12 anos, elas aprendem por meio da ação.
A vivência em detalhes mínimos, como o acompanhamento por um professor em um tour para que a criança conheça a escola e os procedimentos internos, faz parte de uma espécie de ritual de boas-vindas na instituição carioca, que busca a inclusão social. Outra peculiaridade chama a atenção: na hora de “ver” as historinhas, os alunos cegos presenciam a narrativa por meio de performances. “Por exemplo, ao se tratar do conto Chapeuzinho Vermelho, encenamos todo o enredo, enquanto eles acompanham voz e ação, sempre com muito cuidado para que não percam o foco”, comenta a pedagoga.
Como todo processo de aprendizado, nada na escola é padronizado. As reformulações são bem aceitas e avaliadas, de acordo com as necessidades de cada aluno e seu desenvolvimento. Professores também passam por reciclagem constante. “Mantemos um grupo de estudo semanal sobre as três frentes relevantes (didática, psicologia e linguística). Todos são absolutamente fluentes. Não falamos nada na língua nativa durante as aulas e nem nas nossas dependências. Mantemos uma ambientação em inglês para que a imersão seja total enquanto estão aqui”.


Tecnologia a favor da inclusão


Imagine uma solução de tecnologia educacional, que consiste em quatro modelos diferentes chamados “mesas educacionais”. Assim, a Companhia Positivo Informática de Curitiba, no Paraná, direciona ensinos das línguas inglesa e espanhola, por meio da Mesa Educacional E-Block Inglês, comercializada no Brasil, e a E-Block Espanhol, exportada para Colômbia, Uruguai, Paraguai, Argentina, Chile, México, Porto Rico e Panamá. “Nossa técnica usa mecanismos multissensoriais, os quais possibilitam um aprendizado divertido e funcional, valorizando todos os sentidos dos baixinhos entre 4 e 10 anos. A solução é exportada para aproximadamente 40 países. No Brasil, mais de cem escolas públicas, principalmente as municipais, utilizam a E-Block Inglês”, explica Inês Gambá, coordenadora pedagógica do Núcleo de Serviço e Implantação de Projetos.
Por meio da colaboração e interação, a mesa estimula o aprendizado da língua inglesa. Com ela, é possível trabalhar com dois até seis alunos com ou sem deficiência. Para ministrar as aulas, o professor é capacitado por um curso que compreende 20 horas, distribuídas nos cinco dias úteis da semana. O intuito é que o aluno tenha contato direto com o conteúdo, incentivando-o a desenvolver suas habilidades psicomotoras. O professor também pode utilizar a solução, sem a conexão com o computador, já que a ferramenta disponibiliza materiais didáticos independentes.


O módulo, destinado somente às escolas, pode ser instalado em qualquer micro que execute o software de atividades. O método de aprendizagem é o Total Fisical Response (Resposta Física Total, em tradução livre para o português), o qual engloba as ações de ouvir, ler e fazer. “Segundo pesquisas realizadas pelo nosso laboratório, esse conjunto gera uma contribuição importantíssima para o aprendizado de idiomas”. O programa ainda inclui leitura em braile, lente de aumento para crianças com baixa visão, caixas de sons para alunos com deficiência auditiva, além de alavancas para encaixe de cadeiras de rodas, ou seja, tudo foi desenvolvido pensando na inclusão e na interatividade. A E-Block Inglês está disponível no mercado desde 2004. Manaus, São Paulo e Salvador estão entre as cidades brasileiras que mais desenvolvem o método em suas escolas. Já a de língua espanhola começou a ser exportada a partir de 2007.
A central educacional interativa comporta de dois a seis estudantes e conta com um móvel específico, além do software educacional e do computador. “Com isso, cria-se um ambiente agradável, que integra tudo por um módulo eletrônico”, diz.
As mesas possibilitam a construção de conceitos e conhecimentos na língua inglesa de forma contextualizada, com inclusão de vídeos, fotos, imagens, som e texto. A Mesa Educacional Alfabeto, a E-Block Matemática e a Multimundos são as outras três que completam o conjunto. Conforme a coordenadora, todas são adequadas a pessoas com diversas deficiências.
Outro programa que inclui equipamentos em braile e softwares voltados ao aprendizado da língua inglesa para jovens cegos foi desenvolvido em parceria com a Futurekids do Brasil, a Universidade de São Paulo e a Rede Saci. O intuito é estimular a inclusão social, a melhoria da qualidade de vida e o exercício da cidadania desses jovens. A empresa disponibiliza todo o material necessário e oferece cursos de capacitação aos professores. O programa aplicado na Escola Municipal Antônio Fenólio, em Taboão da Serra (SP), é também oferecido para outras cidades.
“Acompanho de perto a evolução de cada um. Se estão felizes, aprendem e têm vontade de assistir às aulas. O que dá certo com um estudante pode não funcionar para outros”, comenta a pedagoga Eloisa Le Maitre Lima.
Inglês para surdos
A Universidade Positivo, no Paraná, leciona a língua inglesa para surdos entre 16 e 40 anos. Além de habilitar o aluno em noções básicas, o curso visa a promover a percepção do valor linguístico, tanto na vida pessoal quanto profissional. Não é necessário conhecimento prévio da língua. Israel Bispo dos Santos é professor do curso, pós-graduado em Educação Especial para Surdos pela Faculdade de Maringá, tradutor- intérprete de Libras pela Universidade Positivo e tradutorintérprete do curso de Letras/Libras da Universidade Federal de Santa Catarina.
No Centro de Integração e Apoio ao Deficiente Visual e Auditivo (Ciadeva), crianças matriculadas na rede municipal de ensino de Taboão da Serra (SP) têm a oportunidade de aprofundarem-se no aprendizado da língua inglesa. “Temos 125 alunos, entre 6 e 15 anos. O curso é aberto ao público, portanto, recebemos, ainda, adultos com deficiência”, conta Cíntia de Oliveira Peixoto, coordenadora do programa de inglês do Planeta Educação, braço da empresa Futurekids do Brasil, especializada em desenvolver projetos educacionais.
Você Sabia?
Recentemente, Eloisa finalizou uma pesquisa, em que comprova que os bebês, já a partir dos seis meses de idade, portanto, em condição de alerta, são capazes de aprender mais de uma língua ao mesmo tempo, de maneira uniforme. “Devemos ter contato com idiomas desde as primeiras horas de vida. O mesmo acontece com bebês que não enxergam. A visão, assim como outros aprendizados, tem seu tempo para maturação. A grande ferramenta de aprendizado de qualquer um é a vivência”, finaliza.

“Aqui no Centro, focamos e aperfeiçoamos o conhecimento do idioma, de acordo com cada dificuldade percebida. Na escola tradicional, os alunos têm a vivência em sala de aula e o convívio com os outros colegas sem deficiência. Acho importante essa experiência, já que a aprendizagem em conjunto é o que de fato caracteriza a inclusão”, diz.
10° Mandamento - Inclusão jáDê OPORTUNIDADE e não
CARIDADE para a pessoa com deficiência!
Para a educadora, o método e o atendimento são personalizados. “Estimulamos as habilidades, aprofundamos e adaptamos os conteúdos e focamos nas necessidades de cada estudante. Esse reforço é realizado individualmente ou em dupla, o que permite alcançar certa excelência. Tudo isso, sem deixar de lado temas que abordam a interação social”. Em São Paulo, redes de escolas de idiomas costumam ter um plano de inclusão para alunos com deficiência. Segundo a assessoria de imprensa da Cultura Inglesa, a escola possui material em braile, quando solicitado, recursos audiovisuais para alunos com baixa visão, além de áreas em comum desenhadas para a acessibilidade. Tainara Monteiro estuda na na Escola Municipal Antonio Fenólio e frequenta o Ciadeva desde 2001. A menina, de 15 anos, está no nono período do ensino fundamental. “Lá, a professora me ajuda muito. Levo as minhas dúvidas e volto para casa com todos os pontos esclarecidos”, diz. A mãe, Rosangela Monteiro, comemora: “Não encontrava uma escola pública adequada para ela, até estar aqui. Aos poucos, ela foi melhorando o rendimento e ficou até mais espontânea, no meio de outras crianças de sua idade”. Com deficiência visual, Tainara aprendeu o braile e propagou seus conhecimentos. “Eu ensinei o sistema para vários colegas da minha classe, e até, para um professor, que hoje já consegue traduzir textos da escrita convencional”, orgulha-se.

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